segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Por um texto experimental no Jornalismo, mas não maneirista

A obra de Caravaggio que serviu como inspiração para a aula sobre vencer os maneirismos.


Trata-se de A Dúvida de Tomé, pintada entre 1602 e 1603.

O que é mais importante naquela analogia é a objetividade. O pintor elimina o desnecessário, tira o efeito de grandeza que foi típico do cinquecentto, mas também amadurece em relação às estilizações que marcaram o maneirismo.

Ele mostra - com uma cena, com o número necessário de personagens (não mais!), com o gesto emblemático, sem fundos distrativos - a "notícia" que explica todo o contexto.

Para a época, Caravaggio soava até mesmo vulgar. Jesus e os apóstolos são retratados como miseráveis (uma empatia com o "leitor"), há emoção cinemática no quadro: é como se o grande artista fosse um documentarista que filmasse o clímax da situação enquanto acontecia. Parece que estamos diante de um "frame", de um pedaço da ação, algo que ainda terá continuidade. Tudo isso poderia parecer muito "barato" para quem estava acostumado a contemplar a ambição cósmica, em que até o movimento se congela pela grandiosidade, empreendida pelos últimos gênios do Renascimento, como Michelângelo, Leonardo e Tiziano.

No entanto, é o que nos basta para entender tudo. Não carecia, ao Caravaggio, montar um "grande cenário". Em parte por que ele estava a serviço da Contra-Reforma: a ideia era convencer as pessoas das virtudes do catolicismo tocando o coração delas. Sem rodeios, sem afetações. Com o perdão da palavra, uma lógica de publicidade.

Ou seja, sem dúvida precisamos encontrar uma voz original no jornalismo. Mas isso representa, a meu ver, superar também o maneirismo que surge da devoção. Precisamos superar o "jornalismo literário" imitativo do Gay Talese como os artistas que atualmente chamamos de "barrocos" venceram o maneirismo decorrente da adoração a Michelângelo (representado aqui pelo Tondo Doni, afresco "redondo", como diz o nome original, aí em cima: uma musculosa Sagrada Família pintada para a abastada família Doni).



Este: um quadro compreensivelmente conhecido como A Madona do Pescoço Comprido, de Parmigianino - uma das obras mais célebres do chamado maneirismo italiano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário