quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O para-choque é o meio-fio no carrinho sem freio


Por Allan Scheid e Denis Barbosa

O sol esquenta o asfalto em mais uma tarde na antiga estrada da Graciosa. É o clima considerado ideal pelos atletas do street luge. Em meio aos carros que passam na rodovia eles começam a vestir os uniformes. Munidos com equipamentos de segurança, a primeira vestimenta colocada é o macacão. Não precisa ser um bom observador para perceber as marcas de asfalto e as costuras que desenham o alto risco. Na listagem dos esportes radicais mais perigosos, o luge ocupa a quarta posição.

Enquanto os lugers ajustam os preparativos finais, Marcos da Costa, atleta de sledge, uma versão mais light do luge, percorre o trajeto de carro vistoriando as condições da pista. Uma pequena pedra é o suficiente para fazer um grande estrago. Chegando no ponto final do trajeto, a estrada da Graciosa é fechada. Via rádio, Marcos da Costa informa Mario Jardim: “tudo ok, drop liberado”.

Mario, pioneiro do esporte na capital paranaense, abre um largo soriso e comunica os companheiros. Luvas, cotoveleiras, joelheiras e o capacete completam o traje. No meio de cinco marmanjos, uma pequena figura chama atenção. Trata-se de Marcos da Costa Filho, apelidado de “Litle Marck” pelo pai coruja Marcos da Costa.

No minuto que antecede a descida, o garoto de 9 anos fica de joelhos sobre o equipamento. Através da viseira erguida é possível flagrar o olhar compenetrado na primeira curva. Os dinossauros do esporte falam sobre o frio na barriga.  Corajoso “Litle Marck” diz não ter medo.

A largada é alavancada com os braços. O preparo fisíco é fundamental para atingir os extremos da velocidade. O corpo do atleta é o motor, o equilíbro é a aerôdinamica nas curvas, inclinando conforme o necessário como nas corridas de motovelocidade. O freio é controlado pelos pés, utilizando um tênis especial que, com borracha de pneu acoplada na sola, evita o desgaste.

O percurso escolhido no dia durou em torno de um minuto e meio. No fim de cada drop entra em ação novamente Marcos da Costa. Com cordas amarradas em um suporte traseiro no carro para rebocar os pilotos ao ponto de partida. Sentados sobre os luges, o retorno é o momento de descanso no treinamento. Dependendo da disposição dos atletas o procedimento é repetido até dez vezes no dia.
 Não é comum ouvir histórias sobre vítimas fatais. O posto de quarto lugar entre os esportes mais perigosos é justificado pelos dois centímetros entre o corpo do piloto e o chão em velocidades superiores a 100 km/h.

Do asfalto para o gelo

O sonho de representar o Brasil nos jogos olimpícos não é possível no street luge. A modalidade só tem espaço nas Olimpíadas de inverno, onde é batizada de luge no gelo.

 Alexandre Cerri, 23 anos, inicia uma nova missão, representar o Brasil nos jogos olimpícos de 2014. Em novembro o atleta irá trocar o verão brasileiro pelo rigoroso inverno europeu. A preparação já começou e, bem humorado, Cerri contou que não usava blusas nas manhãs geladas do inverno curitibano, tudo para ir se adaptando ao clima castigante. Vai ser o primeiro contato com o luge no gelo. Mesmo assim, não espera ter dificuldades para se adaptar ao esporte.

 “O Luge é um hobby profissional”

A definição de Élcio Monteiro expressa as dificuldades enumeradas pelo atleta. Falta de patrocínio, pouca visibilidade na mídia, manutenção dos equipamentos e viagens para competições nacionais e internacionais. Enfático, define a motivação de praticar o esporte: “não é por dinheiro, é por amor”. E acrescenta: “se parar para pensar na grana, você não sai de casa”. 

Porque os repórteres não praticaram o esporte

Não foi possível realizar um drop, nós bem que gostariamos de encarar as descidas da Graciosa e se divertir, porém ao conhecer o esporte de perto percebemos o quanto ele é arriscado. Somente profissionais tem o preparo necessário para realizar tal tarefa.
Aos iniciantes fica a recomendação de interagir com os integrantes das equipes de luge de Curitiba e pegar as dicas sobre o esporte. As pistas do Parque São Lourenço e do Guabirotuba são ideais para começar.

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