quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Obituário # 4: Sebastião Kalinowski, por Daniélle Parabocz

Velho, chato e ranzinza. Foi pai

Sebastião Kalinowski


Sebastião sempre esperava por suas filhas aos sábados, sentado na varanda com o chimarrão pronto. Colecionador de cirurgias no coração, ele era ranzinza e frequentemente mal humorado. Lá ficava ele em seu banquinho, esperando a hora que os carros estacionariam na frente de casa.

Enquanto as crianças brincavam na calma rua, Sebastião, suas filhas e genros ficavam na varanda conversando, comendo amorinhas que eram arrancadas da árvore e tomando o mate que sempre queimava a língua. Não sabia ler, nem dirigir e passeava de carro sempre com o braço para fora, xingando todos os motoristas. Mesmo sendo ele próprio negro, adorava chamar de “macacos” os amigos de suas filhas.

Com 89 anos e complicações da última cirurgia, deixa uma família de 11 filhos, sendo sete legítimos, que sentem falta do seu jeito “chato” de ser. Não tinha dom especial, mas adotou quatro crianças, mesmo sem boas condições financeiras. O carinho com órfãos, no entanto, não deve ser sua herança em memória. A imagem de ranzinza deverá sobreviver à do homem que acolheu quem não tinha para onde ir.


* 29 de janeiro de 1922.
+ 8 de agosto de 2011.

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