quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Obituário # 8: Clara Raimunda, por Francine Maria


Construída com suor e açucar, a casa ficou vazia

Clara Raimunda de Macedo

Clara Raimunda de Macedo faleceu aos 86 anos. Era descendente de escravos e batalhou desde pequena para conseguir realizar seu maior sonho, ter uma casa para morar com sua família. Viveu durante anos em uma fazenda de olaria em Tiriba, no interior de São Paulo. Cuidava principalmente da cozinha e, por conta disso, descobriu enorme talento para a culinária.

Clara não teve muitas oportunidades. Após o falecimento de seus pais, restou apenas sua irmã mais nova para tomar conta. Nenhuma das duas estudou: mal sabiam escrever seus próprios nomes.

Clara ou Tia Clarinha como era chamada, se destacou na feitura delicada dos doces caseiros, dom que herdou de sua mãe, como relembram muitos amigos.

Devota de Nossa Senhora Aparecida, padroeira dos escravos, trabalhou duro durante anos para realizar seu sonho. Tarde demais: seus pais já eram falecidos e sua irmã acabara de morrer de infarto aos 80 anos. E a casa própria foi habitada pela solidão.

Tia Clarinha fumou desde cachimbo até cigarros Carlton Crema, seus favoritos. E possuía saúde impecável. Clara nunca se casou nem teve filhos. Morou até o fim de sua vida com sua patroa.

Nasceu dia 28 de agosto de 1924. E morreu em 15 de junho de 2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário