quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Obituário # 7: Ezequias do Nascimento, por Daiane Andrade

Comprou um telefone para a esposa

Ezequias do Nascimento


Bolo de chocolate com refrigerante. Mais que uma preferência, essa combinação foi uma das grandes paixões da vida de Ezequias do Nascimento, o Nenê, como era conhecido desde a infância. Chegava a tomar sozinho quase dois litros da bebida, mesmo sob os protestos da família, preocupada com a sua saúde já debilitada por úlcera no estômago e um diabetes intrometido. Teimoso, agia feito criança pequena.

Tanto quanto as guloseimas que consumia, Nenê era uma pessoa doce. Com a esposa, Dirlene, a Di, ele se tornava verdadeiramente meloso. “Ele me ligava várias vezes por dia e quando estávamos juntos, não parava de me fotografar”, ela conta. “Chegou até a fazer uma tatuagem no braço esquerdo com a imagem do meu rosto. Dizia que era pra ficar sempre me olhando”.

Nenê e Di se conheceram em Guarapuava, cidade natal de ambos, em 1983. Amigo dos irmãos de Dirlene, Ezequias logo se interessou pela menina de 13 anos que ficava desconcertada quando ele se aproximava. A família dela era contra. Quando Dirlene completou 18 anos, fugiram. “A gente foi viver na casa da minha sogra, onde nasceu nosso primeiro filho”, lembra. “Depois disso, meus pais se obrigaram a aceitar”.

De fato, os pais de Dirlene aceitaram aquele cabeludo meio roqueiro, fã de ACDC e Raul Seixas, como membro da família. O sorriso largo, aberto, que facilmente brotava no seu rosto também deve ter ajudado.

A primeira união do casal durou uma década e terminou porque Nenê havia adquirido o hábito de beber. Dirlene saiu de casa e mudou para Pinhais com os filhos em busca de vida nova. Seis anos para que se reencontrassem. Ele deixara a bebida. “É um amor para a vida inteira”, costumava dizer quando tentava explicar o motivo de jamais ter desistido da sua Di.

A dedicação como pedreiro o tornou, cedo, mestre de obras. Fez isso a vida toda, mesmo quando já estava praticamente às vésperas da própria extinção.

Nas últimas semanas de vida, Nenê ficou estranho. De repente, sem motivos, passou a se desculpar com alguns familiares e agradecer outros. Abandonou os remédios. Pagou dívidas. Comprou um telefone para a esposa. “Você vai precisar disso para falar com as pessoas”. Aos 45 anos, não resistiu ao choque hipovolêmico nem à insuficiência hepática. 

Deixou a viúva e quatro filhos: Allan, Alessandra, Adriano e Alex.


* 23/09/1965
+ 5/08/2011

2 comentários:

  1. Ficou muito lindo Obrigada Pai por tudo ...
    alessandra

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  2. Olá, Alessandra. Muito obrigado pelo seu comentário. Contamos sempre com sua leitura. Um abraço.

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